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Sem Certezas
"A dúvida é o começo da sabedoria."

quinta-feira, fevereiro 26, 2004

Presidenciais 
Este país tem destas coisas. Com o aproximar das eleições Europeias, são as ainda longínquas eleições presidenciais, que continuam a fazer correr tinta nos jornais e noticiários da actualidade. E até no Sem Certezas, acabam por servir como tema para um pequeno poste.
Presentemente e como é sabido, a corrida faz-se à direita entre dois, ainda e só, candidatos a candidatos. Num lado temos Santana "Jet Set" Lopes, o eterno aspirante a qualquer cargo capaz de lhe conferir o protagonismo de que tanto gosta e Cavaco "Cara de Pau" Silva, concebido por um qualquer Gepeto de Boliqueime que, ao contrário da personagem de ficção, já não tem qualquer esperança, de um dia se tornar humano de carne e osso.

Relativamente a Santana Lopes, penso que se lhe tem dado demasiada importância, coisa que o próprio agradece mas que decididamente não se justifica, já que será Cavaco Silva a avançar com a candidatura. E mesmo que Santana Lopes, contrariamente ao que já afirmou, avançasse, não teria quaisquer hipóteses e perderia sempre contra o seu opositor. Razões para algum desassossego existiriam, se porventura fosse o único candidato da direita, no entanto, esse é um cenário que está praticamente posto de parte.
E portanto sobre este candidato não há muito mais o que dizer, já que a conjectura põe-no fora da corrida, não justificando por isso, o tempo gasto a discutir as hipotéticas aptidões que teria (que não tem), para se tornar na mais alta figura do estado Português.

A real preocupação é Cavaco Silva. A ideia de ter este indivíduo, que com o passar dos anos parece ter sido elevado a mito político, primeiro pelos seus correligionários e depois lentamente, por via da proverbial memória curta portuguesa, pelas pessoas em geral, deixa-me deprimido. É que cada vez mais, vou tendo a sensação que sou dos poucos que continua a pensar que Cavaco Silva foi um primeiro-ministro (PM) medíocre, como mais ou menos medíocres sempre foram os nossos governos. Não nego que o país sofreu grandes alterações, para melhor, durante a sua estadia em S. Bento, mas penso que isso aconteceria independentemente de quem quer que estivesse no governo na altura e tivesse as mesmas condições. Essas melhorias deveram-se resumidamente a duas grandes razões - entrada de dinheiro a rodos e estabilidade governativa. O dinheiro veio das primeiras privatizações e principalmente como consequência da entrada de Portugal na então CEE, de onde, subitamente, brotaram nascentes que fizeram correr rios de dinheiro como nunca antes se tinha visto. Quanto à estabilidade governativa, essa foi-lhe conferida pelas maiorias absolutas que logrou atingir durante os seus longos anos de governo. Portanto com estas condições excepcionais, só um perfeito idiota não seria capaz de produzir obra.

Mas independentemente da apreciação que se possa fazer do desempenho de Cavaco Silva como PM, há que ter em conta que a eleição agora é para um cargo que exige aptidões diferentes. Um mau PM pode dar um bom Presidente de República (PR) e o contrário também é possível. Que esperar então do desempenho de Cavaco Silva como PR?

Temo que muito pouco.

Num mundo cada vez mais obcecado com a economia, seria bom ter um PR capaz de contrapor uma visão mais humanista e social. Cavaco Silva não é esse homem. Recentemente ainda, demonstrou como para ele as pessoas não passam de números, quando referiu que a única coisa a fazer com os funcionários públicos é esperar que morram. Comentário revelador do cinismo que nunca conseguiu disfarçar, de um humor estranho e deslocado, de uma constrangedora falta de noção do lugar e situação em que se encontrava, demonstrativo acima de tudo de uma imensa insensibilidade para com os outros.

De um PR estima-se a capacidade que tenha de estar, conversar e ouvir as pessoas. Novamente, Cavaco Silva não é esse homem. Basta fazer um pequeno esforço de memória para rapidamente nos recordarmos da sobranceria e autismo do "raramente tenho dúvidas e nunca me engano".

A um PR exige-se que tenha uma visão abrangente do país, que lhe consiga tomar o pulso, que seja capaz de opinar sobre temas tão diversos como justiça, educação, cultura ou ambiente. Cavaco Silva não é concerteza esse homem. Pouco ou nada se conhece do seu pensamento sobre estes assuntos.

De um PR apreciar-se-ia uma pose de estadista, de homem do mundo, habituado a conviver e a intervir ao mais alto nível internacional. Cavaco Silva não é definitivamente esse homem. A sua pose é a do professor, remetido a um qualquer gabinete bafiento de faculdade, que de vez em quando dá umas palestras e publica biografias sobre ele próprio.

Que mais razões querem, para este indivíduo não poder ser nunca, nem em sítio algum, presidente do que quer que seja, muito menos de todos os Portugueses?
# escrito por Sem às 13:06 | Comentários[]