Este país tem destas coisas. Com o aproximar das eleições Europeias, são as ainda longínquas eleições presidenciais, que continuam a fazer correr tinta nos jornais e noticiários da actualidade. E até no Sem Certezas, acabam por servir como tema para um pequeno poste.
Presentemente e como é sabido, a corrida faz-se à direita entre dois, ainda e só, candidatos a candidatos. Num lado temos Santana "Jet Set" Lopes, o eterno aspirante a qualquer cargo capaz de lhe conferir o protagonismo de que tanto gosta e Cavaco "Cara de Pau" Silva, concebido por um qualquer Gepeto de Boliqueime que, ao contrário da personagem de ficção, já não tem qualquer esperança, de um dia se tornar humano de carne e osso.
Relativamente a Santana Lopes, penso que se lhe tem dado demasiada importância, coisa que o próprio agradece mas que decididamente não se justifica, já que será Cavaco Silva a avançar com a candidatura. E mesmo que Santana Lopes, contrariamente ao que já afirmou, avançasse, não teria quaisquer hipóteses e perderia sempre contra o seu opositor. Razões para algum desassossego existiriam, se porventura fosse o único candidato da direita, no entanto, esse é um cenário que está praticamente posto de parte.
E portanto sobre este candidato não há muito mais o que dizer, já que a conjectura põe-no fora da corrida, não justificando por isso, o tempo gasto a discutir as hipotéticas aptidões que teria (que não tem), para se tornar na mais alta figura do estado Português.
A real preocupação é Cavaco Silva. A ideia de ter este indivíduo, que com o passar dos anos parece ter sido elevado a mito político, primeiro pelos seus correligionários e depois lentamente, por via da proverbial memória curta portuguesa, pelas pessoas em geral, deixa-me deprimido. É que cada vez mais, vou tendo a sensação que sou dos poucos que continua a pensar que Cavaco Silva foi um primeiro-ministro (PM) medíocre, como mais ou menos medíocres sempre foram os nossos governos. Não nego que o país sofreu grandes alterações, para melhor, durante a sua estadia em S. Bento, mas penso que isso aconteceria independentemente de quem quer que estivesse no governo na altura e tivesse as mesmas condições. Essas melhorias deveram-se resumidamente a duas grandes razões - entrada de dinheiro a rodos e estabilidade governativa. O dinheiro veio das primeiras privatizações e principalmente como consequência da entrada de Portugal na então CEE, de onde, subitamente, brotaram nascentes que fizeram correr rios de dinheiro como nunca antes se tinha visto. Quanto à estabilidade governativa, essa foi-lhe conferida pelas maiorias absolutas que logrou atingir durante os seus longos anos de governo. Portanto com estas condições excepcionais, só um perfeito idiota não seria capaz de produzir obra.
Mas independentemente da apreciação que se possa fazer do desempenho de Cavaco Silva como PM, há que ter em conta que a eleição agora é para um cargo que exige aptidões diferentes. Um mau PM pode dar um bom Presidente de República (PR) e o contrário também é possível. Que esperar então do desempenho de Cavaco Silva como PR?
Temo que muito pouco.
Num mundo cada vez mais obcecado com a economia, seria bom ter um PR capaz de contrapor uma visão mais humanista e social. Cavaco Silva não é esse homem. Recentemente ainda, demonstrou como para ele as pessoas não passam de números, quando referiu que a única coisa a fazer com os funcionários públicos é esperar que morram. Comentário revelador do cinismo que nunca conseguiu disfarçar, de um humor estranho e deslocado, de uma constrangedora falta de noção do lugar e situação em que se encontrava, demonstrativo acima de tudo de uma imensa insensibilidade para com os outros.
De um PR estima-se a capacidade que tenha de estar, conversar e ouvir as pessoas. Novamente, Cavaco Silva não é esse homem. Basta fazer um pequeno esforço de memória para rapidamente nos recordarmos da sobranceria e autismo do "raramente tenho dúvidas e nunca me engano".
A um PR exige-se que tenha uma visão abrangente do país, que lhe consiga tomar o pulso, que seja capaz de opinar sobre temas tão diversos como justiça, educação, cultura ou ambiente. Cavaco Silva não é concerteza esse homem. Pouco ou nada se conhece do seu pensamento sobre estes assuntos.
De um PR apreciar-se-ia uma pose de estadista, de homem do mundo, habituado a conviver e a intervir ao mais alto nível internacional. Cavaco Silva não é definitivamente esse homem. A sua pose é a do professor, remetido a um qualquer gabinete bafiento de faculdade, que de vez em quando dá umas palestras e publica biografias sobre ele próprio.
Que mais razões querem, para este indivíduo não poder ser nunca, nem em sítio algum, presidente do que quer que seja, muito menos de todos os Portugueses?
Já andava há algum tempo, com vontade de ir ver um filme de Sofia Copolla, em parte devido às boas críticas que o seu primeiro filme, "The Virgin Suicides", conseguiu arrecadar, filme este que, no entanto, não cheguei a ver. Mas infelizmente, depois de ter ido ontem ver o "Lost In Translation", perdi grande parte do interesse em sequer chegar a vê-lo algum dia.
Do "Lost In Translation" aproveitam-se as bonitas filmagens da cidade de Tóquio e pouco mais. O resto é um amontoado de sketches mal colados, de gags previsíveis, de estereótipos de todo o tipo e diálogos felizmente que quase sempre minimalistas, pois quando o não foram, roçaram rapidamente a banalidade.
Ambos os actores estão bem e é só. Scarlett Johansson, que não conhecia, esteve bem, emprestando sensualidade ao papel que no entanto também não era demasiado exigente. O mesmo se pode dizer de Bill Murray que, embora num registo resignado e ligeiramente mais contido do que é habitual, não deixou de interpretar o papel que todos lhe conhecemos, não justificando por isso o burburinho sobre a possibilidade de nomeação para um Oscar.
O filme foi uma desilusão e francamente não percebo o porquê de ter conseguido reunir uma quase unanimidade de opiniões, todas altamente favoráveis, sendo quase sempre classificado pelos críticos e espectadores, com a classificação máxima de 5 estrelas.
Felizmente que temos ainda em cartaz boas alternativas como o "Mystic River" de Clint Eastwood, aqui sim, com interpretações de nota de Sean Penn, Tim Robbbins e mesmo Kevin Bacon.
Confesso que para mim, a noção de um serão agradável, pode perfeitamente passar por assistir a um par de episódios do "Caminho das Estrelas" na Sic Radical.
O gosto por esta velhinha série e outras semelhantes, tem as suas raízes profundamente enleadas na minha infância, altura em que tive o prazer de acompanhar as aventuras da Enterprise "In its five year mission to explore strange new worlds; to seek out new life and new civilizations".
Volvidos que estão cerca de vinte anos, reviver esta série, é reviver um pouco do entusiasmo duma infância que já passou e por isso, apesar da sua questionável qualidade, é uma série que "suporto" com o maior dos prazeres.
Esta série, que tem aqui o propósito de servir como exemplo, tem nela imbuído o espírito americano. Tem entranhada ao longo dos seus muitos anos de existência, os princípios e valores de uma sociedade que, inegavelmente, modelou em muitos aspectos o resto do mundo ocidental.
São imensos os episódios em que um qualquer vilão responsável pela morte de vários seres, depois de ser capturado, é poupado à vingança de todos aqueles a quem fez mal, para ser massacrado com um sermão sobre as virtudes das nações que fazem da liberdade e da democracia uma bandeira e em que a guerra e a vingança são apenas os desejos dos mais fracos. Há mesmo um de que me lembro, em que o Capt. Kirk é colocado num planeta em que terá de lutar com outro ser alienígena para sobreviver. No fim, graças ao seu engenho, derrota o adversário e no momento em que deveria matá-lo, poupa-o apesar de saber que se a situação fosse a inversa o outro não hesitaria em tirar-lhe a vida. A entidade alienígena superior, que os tinha colocado no planeta para lutarem pela vida, em face deste comportamento, liberta-os não sem antes dizer que, apesar de tudo, ainda há esperança na raça humana.
Para quem como eu enquanto criança, sempre consumiu avidamente estas séries, e não só séries, como também filmes, bandas-desenhadas da Marvel, cujos os heróis sempre foram pautados por uma grande consciência do dever de proteger e salvaguardar a vida humana, é de esperar que tenham tido algum papel na formação da minha personalidade, como de facto julgo ter acontecido.
Não é portanto de ignorar que tal como eu, também muitas outras pessoas, não necessariamente por assistirem a esta série em particular, tenham absorvido estas noções básicas que, no fundo, não são mais do que os princípios pelos quais hoje nos vamos tentando reger no dia-a-dia.
Se actualmente os EUA se vêm confrontados com tanta contestação no seio do mundo ocidental, isso deve-se não somente um "Anti-Americanismo" primário, como alguns intelectuais chatarrões têm a mania de apelidar a todos aqueles que se opõem às estratégias imperialistas Norte-Americanas, mas também a um "Pró-Americanismo" desencantado, de uma América que já não existe ou que se calhar nem nunca existiu. Uma América que incutiu aos outros determinados valores com os quais se vê hoje confrontada.
O desenvolvimento de um certo espirito critico, fez com que hoje se torne claro que todos estes ideais sempre estiveram misturados com muita hipocrisia, mas nem por isso deixaram de ser válidos. Os EUA foram e provavelmente ainda serão, uma espécie de religião, que pese embora o seu comportamento contraditório, tem na génese, valores e princípios bons, que à força de tanto serem invocados, acabam sempre por "entrar". Por isso, apesar de por vezes criticar duramente os EUA, não os renego pois estaria a renegar-me a mim mesmo. Continuo a pensar que esses ideais permanecem ainda como pilares dos EUA e do resto da Ocidentalidade, de onde, já o disse uma vez, acredito ser de onde a humanidade prosseguirá a sua evolução. Não abdico no entanto de ter as minhas próprias ideias sobre o mundo e condenar os que apoio, quando não estou de acordo com as suas acções, mesmo que por isso seja, muito simplisticamente, apelidado de "Anti-Americanista".
Temos que reconhecer que hoje, até na denominação a América perdeu o romantismo. Do nome, vago mas abrangente, adoptou-se outro mais curto e sintético, para que não restem dúvidas de quem se trata. Como o actual inquilino da Casa Branca diria: "Make no mistakes about it, we're the USA".
"Space, the final frontier.
These are the voyages of the Starship Enterprise. Its five-year mission: to explore strange new worlds; to seek out new life and new civilizations; to boldly go where no man has gone before."
O meu último poste, datado de há praticamente dois meses, intitulado "O fim anunciado de Manuela Ferreira Leite", ficou a pairar como um presságio do fim, não da dita, pois como muito bem diz o ditado, "vaso ruim não quebra", mas do próprio, isto é, do Sem Certezas.
Não vou massacrar ninguém a enumerar razões que existiram e existem ainda para tal facto, mas sinto que devo uma palavra a quem por aqui passou e a quem até se deu ao trabalho de, por mera cortesia ou por achar que tinha algum interesse, linkar para aqui.
Por isso à pergunta colocada pelo título deste poste, respondo que o nome do blogue diz tudo, pois se há coisa que ele tem certeza, é o porquê do nome com que foi baptizado!
Normalmente não gosto de colocar aqui postes que se limitam apenas a transcrever ou linkar para outros postes ou notícias.
No entanto, vou abrir uma excepção e linkar para este do MATA-MOUROS.
Cristaliza tudo o que penso sobre este caso e poupa-me a vãs tentativas de fazer o mesmo.
"A demissão de Manuela Ferreira Leite é uma inevitabilidade. Um ano e 8 meses após ter sido nomeada todos os objectivos a que se propôs desabaram no ridículo. É apontada internacionalmente como o paradigma do falhanço de uma política errada que serviu obsessivamente, acefalamente.
Sem energias, nem imaginação para superar a sua fixação no décife, asfixiou o país, fez retrair todas as capacidades económicas no preciso momento em que Portugal mais necessitava de crescer. Razão teve Miguel Cadilhe.
Agora, a França e a Alemanha vêm dizer o que já se sabia: não vão cumprir as regras do Pacto. MFL, incrivelmente, viu-se forçada a votar a favor dos prevaricadores desdizendo em Bruxelas tudo o que dizia ser dogma internamente.
MFL já não tem desígnio. A sua "política" económica perdeu qualquer razão de ser. A sua manutenção como ministra não tem esperança.
Sem gabarito político para conseguir dar um golpe de asa, amarrada às suas próprias limitações, MFL transformou-se num peso morto de que Durão terá de se livrar antes do previsto.
Nem sequer conseguirá servir como um mais do que conveniente bode expiatório deste mau Governo. Para a sua saída ser adequada, teria de esperar mais um ano, para, depois, Durão tentar mudar de imagem, de pessoas e de políticas. Com esta descredibilização cominatória, Durão não vai conseguir alijar a responsabilidade da crise para terceiros: fatalmente, as culpas vão-lhe cair em cima."
"Se eu tivesse sido mais inteligente na época, teria proposto uma fórmula diferente (...)".
Esta é um excerto da frase proferida pelo ministro das finanças francês, Francis Mer, na reunião de ministros das finanças europeus, que decidiu pela não aplicação de sanções à Alemanha e França por não cumprirem os limites de défice impostos pelo PEC.
Manuela Ferreira Leite está encurralada. Ou admite que errou e que também foi pouco inteligente, dando razão a todos aqueles que a acusaram de empurrar o país para a recessão, ou então reafirma a sua ideia e diz que burro é o ministro francês, tendo no entanto neste caso de explicar porque é que votou a favor do levantamento das sanções aos dois países incumpridores.
Os ministros das finanças da UE, chegaram hoje a um acordo, decidindo não aplicar sanções à Alemanha e França, por ultrapassarem o limite dos 3%.
Quatro países opuseram-se - Áustria, Finlândia, Holanda e Espanha - Portugal votou favoravelmente.
Manuela Ferreira Leite, se tivesse um pingo de vergonha na cara, demitia-se por andar a gozar com o país. Como não tem, então no mínimo dos mínimos, exige-se que venha explicar ao Parlamento, o sentido deste voto.
De facto, as propinas permanecem como tema de conversa e debate, visto continuarmos a ser confrontados diariamente com artigos de opinião sobre as mesmas, a grande maioria, diga-se de passagem, favoráveis à nova forma de olhar o Ensino Superior. Tal não é de admirar já que está de acordo com as sondagens de opinião que vão sendo feitas, que revelam que a grande maioria de pessoas acha justo o aumento verificado este ano.
Enfim, aparentemente a maioria baseia a sua aceitação, numa espécie de moralismo primário, já que teima em insistir até à exaustão, que se os alunos têm dinheiro para gastar em copos também têm para gastar nas propinas, o que imediatamente me faz temer por outro princípio básico que é a liberdade individual de cada um.
"Mas que raio é que estes tipos têm a ver com aquilo que eu gasto?"
Da lógica deste ridículo argumento já falei aqui. Acrescento já agora, que seria bom que estes senhores fossem coerentes e dissessem claramente que aquilo que defendem é, caso não tenham reparado, uma subida ainda maior do valor das propinas, já que felizmente, ou se calhar infelizmente do seu ponto de vista, há muitos alunos que até podem pagar bem mais do que o valor actual. E já agora, quanto mais dinheiro tiver o aluno, mais deverá pagar de propinas, garantindo assim que tal dinheiro jamais será gasto em indecentes e ímpias actividades.
Tenham paciência!
Mas o motivo que me levou aqui hoje a escrever de novo sobre esta temática, foi este curioso artigo publicado hoje no Público.
Cheguei ao fim e, ou não percebi aonde o seu autor quis chegar, ou então reina na sua mente uma gigantesca confusão.
Começa, até bem, por dizer que as pessoas sabem apenas aquilo lhes é dado ver pelos órgãos de comunicação social, que como se sabe dão mais primazia ao espectáculo omitindo, não raras vezes, o que é essencial.
Mas depois, partindo desta alegada ignorância, interroga-se se a pessoas calculam o quão mais caro é o ensino privado relativamente ao público. Se sabem que há filhos de famílias que não tendo dinheiro para pagar explicações, têm a sua entrada no Ensino Superior barrada, tanto mais, que com as recentes restrições no acesso superior, as médias de entrada se tornaram demasiado elevadas. Pergunta-se também, se sabem os sacrifícios que as famílias fazem para manter os filhos numa privada, quando estes estes não têm outra alternativa visto não terem conseguido ter a nota mínima de acesso ao Ensino Público, pelos motivos apontados anteriormente.
Depois a propósito de uma reportagem da TVI, que expôs as condições de degradação das instalações da Universidade de Coimbra, conclui se não é justo que se pague mais de propinas!
Bem, que grande confusão! Parece que ia concluir uma coisa e acabou por concluir o contrário.
No fundo o que este senhor parece estar a dizer é que se deveria pagar no público o que se paga no privado!
Claro que não resolvia nada das dificuldades que apontou, mas pelo menos estava tudo metido nos mesmos maus lençóis.
É lamentável este tipo de raciocínio, mas de qualquer maneira aborda a questão das privadas, algo sobre a qual desejo aqui expressar a minha opinião.
Sejamos claros!
As universidades privadas existem porquê? Muito simplesmente porque há uma oportunidade de negócio. Há alunos que não entram no Ensino Superior Público, por que não demonstraram capacidade para tal, mas que no entanto estão dispostos a pagar, e bem, essa entrada, obviamente porque têm possibilidade para tal. Adicionalmente, embora hoje já não tanto, é também uma forma de fazer uma separação social e juntar uma elite cujo relacionamento poderá oferecer no futuro alguns benefícios mútuos.
Mas claro, o mundo avança, felizmente para melhor e as pessoas vão tendo mais poder económico, pelo que as coisas hoje já não são bem assim. De facto, cada vez mais alunos que não têm as notas mínimas de entrada no Ensino Público, podem aceder ao ensino Privado, mas ainda assim, à custa de muitos sacrifícios familiares.
É lícito esse sacrifício? Deveria haver algum tipo de comparticipação por parte do estado para o minorar?
Na minha opinião não.
A questão aqui é, para utilizar uma palavra cara à direita, uma questão de mérito e o mérito não se compra.
É na questão do acesso, que faço a principal diferença entre o Ensino Superior e o resto do ensino.
Aqui sim, faz sentido dizer que não é financeiramente suportável para o Estado, pagar o Ensino Superior para toda a gente que o queira frequentar.
A escolha terá que ser feita em função da capacidade de cada um. Se não entrou no ensino público é porque não demonstrou capacidade para tal. Se demonstrou, então aqui sim, o Estado deverá envidar todos os esforços para que a sua frequência seja o menos onerosa possível, o mesmo será dizer, tendencialmente gratuita.
Obviamente que este princípio não funciona na perfeição. Claro que há casos em que isto não se passa assim. O caso mais evidente é o de Medicina que deixa todos os anos imensa gente com capacidade mais do que evidente para frequentar a Universidade Pública. A solução passará obviamente pela abertura de novas vagas, tendo o cuidado de garantir que tal, não levará a uma degradação na qualidade desse ensino. Ainda assim, possivelmente haverá pessoas de qualidade que ficarão de fora. Ou voltam a tentar a sorte no ano seguinte, ou então têm que ser realistas e aceitar que há quem seja melhor.
As privadas nada têm a ver com esta história. Se a frequência de um aluno no Ensino Superior por si só já é muito cara, se adicionarmos a isso o custo do lucro que essa privada obviamente vai querer ter, então é que os custos do Estado com o Ensino Superior rebentam as escalas. Como isso não é possível, das duas uma, ou o número de pessoas no Ensino Superior diminui para o Estado poder comportar os custos, ou então será o aluno a comportá-los, tornando a sua frequência em mais uma fonte de dores de cabeça e preocupações para as famílias, na gestão dos seus rendimentos mensais, contribuindo assim para diminuir a sua qualidade de vida.
Infelizmente, temo que a filosofia deste governo, seja justamente a de paulatinamente, vir a igualar os custos da frequência no Ensino Superior Público com os do Privado, tendo este recente aumento, sido apenas um passo nesse sentido.
Esther Mucznik, em artigo hoje publicado no Público, é o exemplo acabado de um dos porquês que minam a resolução do conflito entre Israel e Palestina.
A começar pelo título, "Amor e Ódio", mera utilização formal de frase feita, mas que de facto, à qual não é feita justiça, já que praticamente ignora, ou esquece-se do primeiro dos substantivos, deixando-se levar na explanação do segundo, o qual, fá-lo recair na forma da Europa olhar para Israel.
Fala de ambivalência de sentimentos Europeus, mas logo a seguir trai-se ao revelar que na sua opinião, o "ódio tem sido muito maior que os momentos de amor".
Prova disso, segundo a autora, é o resultado da recente sondagem encomendada pela Comissão Europeia e que coloca Israel no topo dos países que constituem ameaça à paz global.
Sem dúvida é importante, reflectir sobre este resultado, e de facto é hipócrita tal sondagem não ter sido publicada pela Comissão. Infelizmente, e é contra isto que me oponho, é uma pena que se desperdiçe pensamento e retórica olhando para o passado em vez de olhar para o presente para justificar tal sentir.
E se calhar, é apenas e somente retórica que se desperdiça, limitando-se a enunciar os já estafados argumentos do sentimento de culpa Europeia e uma pretensa campanha de diabolização do estado de Israel.
Na Europa e particularmente em Portugal, que é o caso que conheço, discordo que haja qualquer tipo de orquestração para tender a opinião pública para um ou para outro lado, há apenas e felizmente, liberdade de expressão para que quem seja pró-israel, pró-palestiniano, ou neutro, possa livremente exprimir as suas ideias, mesmo que por vezes o faça com demasiado rancor e violência.
Fica subjacente neste artigo, uma incapacidade de olhar para o essencial. A análise é feita com o fim de encontrar razões de ódio e incompreensão, quando isto devia ser apenas um passo intermédio para o verdadeiro fim de qualquer análise sobre este conflito, que é a obtenção de soluções para a sua resolução.
E mais, revela uma incapacidade de olhar para o outro lado e para si mesmo, ao ignorar completamente, as sevícias impostas por Israel ao povo Palestiniano.
A paz é urgente mas, ao contrário do que conclui a autora, para tal, não é necessário haver uma mudança na política europeia relativamente a Israel, como se a culpa, já agora, fosse da Europa. Uma vez mais é reveladora do pensamento do "ou estás por nós ou estás contra nós". Possivelmente gostaria que a Europa tivesse uma política semelhante aos EUA, claramente pró-isrealita, mas felizmente tal não tem acontecido, continuando a manter uma posição equidistante, pecando apenas por, há que lamentá-lo e admiti-lo, não ter capacidade própria de conseguir ter um papel mais activo e definitivo na resolução deste problema.
Só para concluir, pese embora não concorde com os resultados da reflexão da autora, é de louvar, que o debate sobre o tema, que versa o ódio, não tenha servido, como por vezes se vê, para o acicatar ainda mais.
De novo, com a notícia publicada hoje no Público, relativa ao incumprimento no pagamento de horas extraordinárias por parte da banca, apraz-me realçar alguns aspectos que me parecem relevantes.
1. Actualmente, a banca beneficia de forma escandalosa e sem qualquer justificação de um tratamento fiscal de excepção.
2. No panorama actual de crise, tem conseguido passar incólume, mantendo nuns casos e aumentando em outros os lucros obtidos na sua actividade.
3. Apesar disto, e como se percebe pela notícia de hoje, segue a lógica da exploração da mão de obra, coagindo os seus colaboradores a fazerem horas extraordinárias sem qualquer tipo de compensação, nuns casos de uma forma mais "leve", noutros de uma forma mais "pesada" sob pena de serem transferidos de local de trabalho ou despedidos.
4. Esta lógica, que não é exclusiva da banca, é aplicada com mais vigor nas instituições privadas do que nas não privadas.
5. É incontornável não pensar nas leis contidas no novo código de trabalho produzido pelo actual ministro da SS&T, Bagão Félix, e se não poderão elas facilitar esta prática ao invés de a dificultar.
Para terminar e como não podia deixar de ser, uma palavra especial para o Totta e Açores, que de entre os piores consegue sobressair e ser ainda pior.
Num espaço de tempo relativamente curto, primeiro no caso do desfalque no Totta & Açores de Seia e agora pela segunda vez neste caso, este banco vem à baila pelas piores das razões.
Breves comentários sobre a entrevista de ontem na RTP a Ferro Rodrigues:
1. Ferro Rodrigues mostrou que, quando não lhe sobe a mostarda ao nariz, é uma pessoa preparada, capaz de um discurso estruturado, coerente e mobilizador e que poderá efectivamente liderar uma alternativa credível ao governo de Durão Barroso.
2. Teve alguns pontos altos, nomeadamente ao denunciar a hipocrisia do governo na apresentação, na passada segunda-feira, do Plano Ferroviário Nacional, quando nos anos de governo de António Guterres a apresentação de um plano similar recebeu fortes críticas pelas vozes de Durão Barroso e Paulo Portas.
3. Teve um ponto menos alto, ao invocar o artigo publicado por Vitor Malheiros, para falar sobre o estado da Saúde em Portugal. Penso que a referência a situações pessoais melindrosas, como é o caso, são de evitar, sob a pena de se cair em demagogia ou pelo menos ser acusado dela.
4. Infelizmente, metade da entrevista foi ocupada com os casos relacionados com o processo Casa Pia e outra metade a censurar, diga-se que com razão, a actuação do actual governo. Propostas e soluções alternativas nem vê-las, o que deixa claro que: primeiro, os partidos políticos estão reféns daquilo que a Comunicação Social entende serem os temas relevantes a discutir; segundo, a Comunicação Social está refém, em prol das audiências, do país e daquilo que quer ouvir falar, utilizando a máxima do "dar ao povo aquilo que ele quer, não aquilo que ele precisa"; terceiro, obviamente o país não quer ouvir, nem de propostas nem de soluções.
Finalmente, se porventura houver a hipótese desta entrevista poder servir como rampa de (re)lançamento do PS como oposição, ficamos então a aguardar, para breve, a saída de novas notícias que irão contrariar tais e tamanhas pretensões.
Esta conversa passa-se num café entre dois amigos:
- Eh pá, ontem à noite encontrei um blogue espectacular!
- Ah sim? E então, é sobre quê?
- Bué da coisas men!
- Bué? Men? Ouve lá, vê mas é se falas português!
- Mau... Queres saber ou não?
- Tá bem, anda lá, continua.
- Ok, é assim. Estava eu com a minha chavala e coisa e tal... quando de repente recebo uma mensagem no meu telélé novo!
- ...
- Claro que fui logo ver a mensagem. Afinal era uma óptima oportunidade de lho mostrar e causar uma boa impressão.
- Sei... O efeito deve ter sido devastador.
- Pois, não percebi o que aconteceu, desapareceu porta fora!
- Mas e a tal mensagem?
- Eh pá, era um endereço de um blogue. Qualquer coisa relacionada com não ter certezas...
- Então mas e quem é que te enviou a mensagem?
- Foi engano! De qualquer maneira, como já não tinha nada pra fazer, liguei a machine e resolvi dar uma vista de olhos.
- E?
- Fantástico! Tem uns postes a dizer mal de tudo. E tem um diálogo muita baril, também.
- Um diálogo sobre quê?
- É complicado explicar...
- Complicado? Não percebo...
- Digamos que tudo o que dissémos e iremos dizer aqui, está lá escrito.
- Está lá escrito? Ora essa. Estás a gozar comigo ou quê?
- Não estou nada, é verdade. Lembro-me perfeitamente de ter lido aquilo que acabaste de dizer.
- Tás parvo, ou quê? Isso não pode ser verdade.
- Claro que é. Não me perguntes é como, que agora não te posso dizer.
- Não me podes dizer? Não estou a perceber nada. Dizes que tudo o que eu disser a seguir, já está lá escrito?
- Já.
- JH BkhgB ykjgJH KUYTT uasfdd asdfasdfase CASDC cdl. Ah, ah. Aposto que isto não estava lá escrito.
- Que engraçado! Então aquelas palavras esquisitas que lá estavam, soam assim!
- Não pode ser! Sabes o que isso significa?
- Huummm... Já sei! Significa que quem escreveu aquilo tem uma máquina do tempo, viajou para o futuro e ouviu-nos falar.
- Ouviu-nos? Ou está neste momento, aqui e agora, a ouvir-nos?
- Brrrr... Senti um arrepio na espinha...
- Não é possível. Não é possível.
- Duas vezes disseste isso. Quando estava a ler esta parte da conversa, pensei que tinha sido um erro na escrita do texto. Um erro do tipo copiar e colar duas vezes sem querer. Pelos vistos não era. Mas também imediatamente me apercebi disso quando li a linha seguinte.
- Meu Deus... Começo a perceber...
- O quê? Já leste o texto?
- Como já li o texto?
- Se já percebeste!
- Não, não li. Mas então... já sabes o que está a acontecer?
- Claro. Li até ao final!
- Então se leste até ao final sabes que não li. Nesse caso porque fizeste uma pergunta para a qual já sabias a resposta?
- Porque estava lá escrito.
- Então mas se sabes a verdade, como é que consegues estar tão calmo?
- Se percebeste... já sabes qual é a resposta!
- Sim... Não... Não consigo conceber algo assim. Penso, logo existo. Isto tem que ser verdade... Já sei, vais dizer-me o que eu vou dizer a seguir. Se souber o que direi, posso sempre dizer algo diferente. Vá, diz.
- Não pode ser.
- Não pode ser?
- Aí está! Convencido?
- Ahhhhhh, enganaste-me. Não deste a entoação de pergunta.
- Pediste-me para dizer, não para perguntar...
- Ok, não volto a cair no mesmo truque. Diz-me o que direi a seguir.
- Não me lembro.
- As rosas são vermelhas e as violetas são azuis. Ah, ah, falhaste, falhaste!
- Não. Não percebeste. Eu disse que não me lembro. Não estás concerteza à espera que me lembre de tudo o que li, pois não?
- Bem, assim sendo apenas quero que me confirmes duas coisas.
- Sim, diz lá.
- A verdade é que nós na realidade não existimos e somos apenas fruto da imaginação doentia de alguém. É assim?
- É.
- Assim sendo, pressuponho que o texto tenha um final e com esse final termine a minha existência. Se é que posso falar em existência...
- É verdade.
- Falta muito para acabar a nossa conversa?
- Não. Já só falas mais uma vez. E quanto a mim... por aqui me fico.
- Nesse caso direi apenas mais isto. QUE QUEM INVENTOU ESTA PORCARIA DE DIÁLOGO VÁ PARA...
PS: Este é um antigo diálogo que se encontrava numa página pessoal minha. Publiquei-a aqui, com algumas adaptações de circunstância.
O Público publicou ontem uma série de artigos sobre o conflito Israelo-Árabe, a propósito do seminário sobre a paz no Médio Oriente, ocorrido em Sevilha e organizado pelas Nações Unidas.
Destaco o O Fim do Sionismo, extractos de um artigo publicado pelo trabalhista Avraham Burg num diário hebraico.
É um artigo para ler, sem preconceitos, por todos aqueles que apesar de não estarem directamente envolvidos no conflito e do qual têm apenas a percepção daquilo que lhes chega pelos órgão de comunicação, nem por isso hesitam em contribuir para este ciclo de ódio e vingança. Por quem não acredita que boas intenções existem do lado Israelita, mas também pelo outros que defendem a actual política de extermínio de Ariel Sharon. A estes últimos principalmente, para que façam uma introspecção e se interroguem porque razão destilam tanto ódio, tanta raiva, tanta sede de sangue e vingança, mais do que quem, legitimamente, teria razões para o sentir e desejar com maior fervor e intensidade, como é o caso do autor do artigo.
Avraham Burg é israelita, é judeu, é defensor do sionismo e provavelmente saberá o que é viver numa nação estigmatizada pelo medo do terrorismo. Mesmo assim, consegue olhar para o lado de lá, sensibilizar-se com a miséria e humilhação humana que é imposta, pelo seu povo, à população Palestiniana e perceber que "Uma estrutura que assenta na insensibilidade humana acabará, inevitavelmente, por ruir sobre si própria".
Esta sensibilidade, que terá que ser recíproca, tem obrigatoriamente que ser o primeiro passo para a verdadeira paz. O seguinte será a cedência, que deve ser a que for precisa para alcançar a paz. Como muito bem sintetizou numa entrevista que deu - "É só uma questão de querer pagar o preço.".
O "Acordo de Genebra", iniciativa recente de personalidades da esquerda Israelita e Palestiniana para a resolução do conflito, parte destas duas ideias. Pode não ser a solução, mas é uma porta que poderá permitir sair do corredor, por onde se entrou, e que actualmente está ladeado de maciças paredes nas quais não existe sequer uma fresta que deixe entrar uma réstia de luz.
Claro que iniciativas baseadas nestes princípios já foram tentadas anteriormente sem sucesso. No entanto, não restem dúvidas que essa é a única forma de alcançar a paz. Manifestamente, a actual política levada a cabo pelo primeiro-ministro Ariel Sharon apenas tem gerado mais violência. Sejamos realistas! Tal política apenas poderá resultar em paz, numa de duas situações:
Quando a Palestina se tiver tornado num gigantesco campo de concentração ou então quando não restar à face da Terra um único Palestiniano vivo.
Isto é um facto, é claro com a água e só não vê quem está toldado na razão pelo ódio e desejo de vingança, ou quem pensa que um Holocausto Palestiniano é mesmo a solução para o problema!
"Olho por olho e a humanidade acabará cega". Não está contida nesta simples frase uma grande verdade? Não é ela suficiente para perceber o que está mal? Não é óbvio que alguém terá que ceder e que mesmo que ceda mais do que a outra parte, a recompensa será sempre infinitamente maior e terá sempre valido a pena?
Nesta guerra não estou do lado de ninguém ou se calhar estou dos dois lados. Possivelmente serei mais crítico de Israel, darei mais ênfase aos seus erros, como se os culpabilizasse mais a eles do que à Palestina pela situação. Não entendam mal, não o faço por achar que são mais culpados. Faço-o não só por Israel ser a nação mais forte, mas principalmente por ser a nação na qual revejo mais dos princípios civilizacionais do mundo Ocidental, os quais acredito serem aqueles de onde a humanidade continuará a evoluir. Por isso deveria ser seu dever fazer jus a essa imagem, dar o exemplo e ser o principal e decisivo impulsionador para a tão desejada paz entre Israelitas e Palestinianos.
E agora um pouco de música!
Letra retirada do album "Bairro do Amor" de Jorge Palma.
PASSOS EM VOLTA
Quando o sol chegou aos subúrbios da cidade
Anunciando mais um dia igual aos outros
Ele acordou e pressentiu
Que hoje o seu dia ia ser diferente
Sentiu nos lábios o sabor
Dum sorriso finalmente triunfante
Escorregou da cama
E contemplou o espelho sorridente
Acabou-se a incerteza dos seus passos em volta
De um sentido que ele nunca encontrou
Pela primeira vez tinha o destino nas mãos
Desta vez ele não duvidou
Sentiu-se invadir por uma estranha lucidez
Que o conduzia pelas calhas do passado
Serenamente descobriu
Que afinal tudo tinha o seu sentido
Levou o olhar á janela
Lá em baixo a rua estava abandonada
Levantou o fecho
E de repente alcançou a liberdade
Acabou-se a angústia dos seus passos em volta
Dum amor com que ele apenas sonhou
Pela primeira vez tinha o futuro nas mãos
Abriu a janela e voou
Já muito se escreveu sobre "Equador", o primeiro romance de Miguel Sousa Tavares (MST) e bem sei que já venho atrasado. Mas tenham paciência, já tinha o poste +/- alinhavado desde Setembro, altura em que acabei de o ler e assim aproveito para mudar de assunto.
Quem ainda não leu o livro mas está a pensar nisso e que por essa razão está curioso em ler o comentário mas também está receoso que faça aqui alguma revelação que lhe estrague o prazer de depois ler a história, pode estar descansado e ir até ao fim.
"Equador" ocupou, com alguma pena minha, apenas cinco dos meus dias de férias "grandes". Com pena, pois sou daquelas pessoas que com a perspectiva de chegarem ao final de um bom livro como é o caso deste, experimentam aquele sentimento de irremediável e eminente perda, preferindo normalmente prolongar no tempo os capítulos que faltam, para melhor os saborear, a ceder ao ímpeto de os devorar rapidamente.
Portanto gostei, embora não tenha ficado surpreendido com o facto. Já tinha lido o "Não te deixarei morrer David Crockett", uma compilação de pequenas crónicas, algumas publicadas na revista Máxima, de teor mais intimista, além de ser leitor assíduo das suas análises semanais no jornal Público, nas quais aprecio o estilo leve e escorreito, porém directo e contundente. Isto, mesmo quando estou em total desacordo com a sua opinião a ponto de o insultar.
E esse estilo, embora menos agressivo e mais visual como seria de esperar num romance, reconhece-se imediatamente após as primeiras páginas, que nos prendem inevitavelmente à história.
Não concordo com a comparação feita por algumas pessoas com "Os Maias" ou com a literatura de Eça em geral. Terão semelhanças na capacidade de agarrar o leitor, no género já que ambos escrevem sobre amores, ao mesmo tempo que fazem um retracto mordaz da sociedade, mas o estilo é diferente.
Eça é clássico, tem um completo domínio da Língua Portuguesa e como tal, tem uma escrita mais pensada, mais trabalhada, mais rendilhada.
MST é mais simples e como tal mais escorreito. Mas isto, do meu ponto de vista, é justamente o seu dom e o que o define como escritor. Não cai, como frequentemente se vê, em pretensiosismos estilísticos, nem se deixa enredar em construções sintácticas demasiado complicadas. Filosoficamente, a perfeição encontra-se na simplicidade e não na complexidade.
De qualquer maneira, tem ainda que andar um bocado para poder ser equiparado a Eça.
Regressando ao calhamaço propriamente dito, e como já se conclui pelo anterior exposto, as suas 500 e tal páginas são enganadoras. O livro lê-se num ápice, não só por ser absorvente, mas também porque ao abri-lo, constatamos que o texto possui letras de tamanho agradável e linhas bem espaçadas, permitindo concentrarmo-nos mais na história e menos no esforço visual da leitura.
A história passa-se nos inícios do século XX, altura em que a luta entre monárquicos e republicanos se começava a extremar e que posteriormente viria a culminar com a implantação da república em 1908. Durante o período que antecede esta data, Luís Bernardo Valença, assim se chama a personagem principal, é convocado pelo então Rei D. Carlos, a largar os amigos e a vida de diletante que até então praticava e aceitar o cargo de governador da colónia de S. Tomé e Príncipe, numa missão de importância vital para Império Português Ultramarino - convencer um representante inglês que não existe trabalho escravo na colónia de S. Tomé, impedindo assim o embargo de Inglaterra às exportações de cacau da ilha. Levado pela necessidade de encontrar um sentido na sua vida mais do que pelo amor à pátria ou ao seu rei, aceita.
A reconstrução deste final de época, a vida boémia de Lisboa, o ambiente político, os contrastes desta sociedade cosmopolita com as gentes que vivem nas colónias, os feitores, os escravos negros vindos de Angola, o trabalho duro das roças, tudo é retractado exemplarmente.
A descrição da chegada à ilha, do oceano que a rodeia, das pequenas praias desertas, da vila, das visitas às roças, do óbó, do clima quente e húmido que cola a roupa ao corpo das personagens, faz-nos pensar saber o que é estar lá.
A progressão da história é feita num estilo cinematográfico. À história de Luís e da sua chegada a São Tomé, é feita um interregno, que nos transporta e coloca em plena Índia colonial, com todo o exotismo das mil e uma noites, os sultões, os seus sumptuosos palácios e sensuais haréns, onde iremos acompanhar a ascensão e queda do representante inglês que irá encontrar-se com Luís na ilha São Tomense.
As relações entre as personagens são também muito exploradas, não se tratasse de um romance. O amor, a paixão, a traição, a amizade, estão presentes, dando solidez psicológica às mesmas, ao mesmo tempo que permitem a empatia necessária com elas.
Aliás, é muito fácil gostar ou odiar as personagens e talvez aqui, resida uma pequena crítica a MST, já que se pode dizer que caem em estereótipos bem conhecidos. Por outro lado, os estereótipos existem de facto e não vejo porque se há de censurar demasiado a sua utilização.
O facto de MST ser comentador político, é aproveitado pelo mesmo para emprestar dimensão ideológica às personagens, sendo tal visível nos debates e discussões políticas tidas pelas personagens, onde são evidentes as analogias nas críticas feitas à sociedade do início do século, com as críticas que são feitas à sociedade de hoje.
Pessoalmente penso que a personagem de Luís Bernardo é em alguns aspectos baseada no próprio MST, na imagem que ele terá ou gostaria de ter de si. E não apenas nas ideias, como também na descrição física que faz dela. Olhos castanhos e cabelos típicos de quem se costuma pentear com os dedos da mão, parecem-me semelhanças óbvias. Claro que isto é apenas uma suposição!
Tenho apenas um único senão com a história de "Equador". O final! Não gostei, fiquei algo decepcionado, achei que não fez muito sentido e se poderia ter encontrado uma solução diferente e mais coerente com a psicologia da personagem. Mas mais não digo, leiam, verão que é um livro bem escrito, agradável, cativante, ideal para passar as tardes quentes de umas férias de Verão!
Aproveitando a boa ideia do The Political Compass, podemos agora falar, não de inclinação ideológica (esquerda/direita), mas de quadrante ideológico (1º/2º/3º/4º).
E é interessante reparar que na avaliação feita ao discurso e acção de conhecidas personalidades mundiais, nenhuma parece cair no 2º quadrante. Ou seja, parece que se descobre aquilo que é uma característica intrínseca da direita - o autoritarismo.
Para quem pensa nestas histórias da Direita e Esquerda, é interessante fazer o teste do The Political Compass para saber qual o posicionamento que nos atribuem.
A clássica classificação Direita/Esquerda é aperfeiçoada com o intuito de poder fazer-se a distinção entre, por exemplo, uma esquerda tipo Estaline e uma esquerda tipo Gandhi.
O resultado é apresentado num gráfico XY. O eixo dos XX representa a visão economicista e o dos YY a sensibilidade social.
Eu fiquei-me pela seguinte classificação:
Economic Left/Right: -5.38 (um bocado exagerado)
Libertarian/Authoritarian: -1.85 (...)
Tinha piada ver os resultados de alguns bloguistas mais afectos a comentários de teor político.
Eu já fiz! E você?
...deste Blogue. Quando iniciei a escrita este blogue, não fazia intenção de cair no discurso político. Não é assunto que me ocupe grande parte do dia, aliás acontece por vezes passar dias sem ver um noticiário ou ler um jornal - ao fim-de-semana é quase certo - já tendo até por causa disso passado ao lado de alguns acontecimentos marcantes da nossa época.
Mas tento sempre fazer um esforço de recuperação, mesmo para de vez em quando, poder mandar umas "postas" minimamente sustentadas, em nome daquilo que é a minha visão de como o mundo deveria ser.
Mas como tudo na vida, uma coisa são intenções e outras são acções tomadas, ou na versão pessimista, de boas intenções está o inferno cheio e a verdade é que acabei por discursar mais sobre actualidade política do que de outras coisas.
Contribui para isso a leitura diária de blogues de cariz marcadamente político - por qualquer razão inconsciente foram esses os escolhidos para fazer parte da minha ronda bloguistica - que em conjunto com o momento particularmente complexo que se está a viver, inevitavelmente acabaram por me influenciar e levar a escrever sobre esse assunto.
E escrever obriga a pensar, pensar leva a reflectir, reflectir leva a constatar e constatar sobre política, convenhamos, é deprimente! Não há volta a dar e quanto mais se pensa nisso, mais se fica assolado por uma descrença total nas pessoas e na sociedade em geral.
Todos os dias abrimos o jornal ou lemos os diários informativos na Net e apenas descobrimos exemplos de injustiças, de amiguismos, de compadrios, de corporativismos, de desresponsabilização, para esconder incompetência, chico-espertismo, aldrabice, ilegalidade, ganância de dinheiro e poder. E ao vermos este estado de coisas, no que é preciso fazer para o combater e nas pessoas que estão à frente para levar a cabo essa tarefa, é difícil ser-se optimista! Os políticos que lideram a sociedade, que deveriam ser o exemplo a seguir, que deveriam ser os impulsionadores da mudança pois são quem tem poder legítimo para tal, mais não são do que o produto e o espelho dessa sociedade. E se a sociedade revela falta de princípios, também eles o revelam, se é corrupta e frouxa também eles o são.
Azar! Temos aquilo que merecemos!
PS: vejam lá não levem este poste demasiado a sério!