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Sem Certezas
"A dúvida é o começo da sabedoria."

quarta-feira, novembro 26, 2003

O fim anunciado de Manuela Ferreira Leite  
Normalmente não gosto de colocar aqui postes que se limitam apenas a transcrever ou linkar para outros postes ou notícias.
No entanto, vou abrir uma excepção e linkar para este do MATA-MOUROS.
Cristaliza tudo o que penso sobre este caso e poupa-me a vãs tentativas de fazer o mesmo.

"A demissão de Manuela Ferreira Leite é uma inevitabilidade. Um ano e 8 meses após ter sido nomeada todos os objectivos a que se propôs desabaram no ridículo. É apontada internacionalmente como o paradigma do falhanço de uma política errada que serviu obsessivamente, acefalamente.
Sem energias, nem imaginação para superar a sua fixação no décife, asfixiou o país, fez retrair todas as capacidades económicas no preciso momento em que Portugal mais necessitava de crescer. Razão teve Miguel Cadilhe.
Agora, a França e a Alemanha vêm dizer o que já se sabia: não vão cumprir as regras do Pacto. MFL, incrivelmente, viu-se forçada a votar a favor dos prevaricadores desdizendo em Bruxelas tudo o que dizia ser dogma internamente.
MFL já não tem desígnio. A sua "política" económica perdeu qualquer razão de ser. A sua manutenção como ministra não tem esperança.
Sem gabarito político para conseguir dar um golpe de asa, amarrada às suas próprias limitações, MFL transformou-se num peso morto de que Durão terá de se livrar antes do previsto.
Nem sequer conseguirá servir como um mais do que conveniente bode expiatório deste mau Governo. Para a sua saída ser adequada, teria de esperar mais um ano, para, depois, Durão tentar mudar de imagem, de pessoas e de políticas. Com esta descredibilização cominatória, Durão não vai conseguir alijar a responsabilidade da crise para terceiros: fatalmente, as culpas vão-lhe cair em cima."

# escrito por Sem às 11:13 | Comentários[]

terça-feira, novembro 25, 2003

Cai a máscara da competência 
"Se eu tivesse sido mais inteligente na época, teria proposto uma fórmula diferente (...)".
Esta é um excerto da frase proferida pelo ministro das finanças francês, Francis Mer, na reunião de ministros das finanças europeus, que decidiu pela não aplicação de sanções à Alemanha e França por não cumprirem os limites de défice impostos pelo PEC.
Manuela Ferreira Leite está encurralada. Ou admite que errou e que também foi pouco inteligente, dando razão a todos aqueles que a acusaram de empurrar o país para a recessão, ou então reafirma a sua ideia e diz que burro é o ministro francês, tendo no entanto neste caso de explicar porque é que votou a favor do levantamento das sanções aos dois países incumpridores.
# escrito por Sem às 19:00 | Comentários[]

O descrédito total 
Esta ministra anda mesmo gozar connosco.

Os ministros das finanças da UE, chegaram hoje a um acordo, decidindo não aplicar sanções à Alemanha e França, por ultrapassarem o limite dos 3%.
Quatro países opuseram-se - Áustria, Finlândia, Holanda e Espanha - Portugal votou favoravelmente.

Manuela Ferreira Leite, se tivesse um pingo de vergonha na cara, demitia-se por andar a gozar com o país. Como não tem, então no mínimo dos mínimos, exige-se que venha explicar ao Parlamento, o sentido deste voto.

# escrito por Sem às 15:00 | Comentários[]

segunda-feira, novembro 24, 2003

Sobre as propinas (III) 
De facto, as propinas permanecem como tema de conversa e debate, visto continuarmos a ser confrontados diariamente com artigos de opinião sobre as mesmas, a grande maioria, diga-se de passagem, favoráveis à nova forma de olhar o Ensino Superior. Tal não é de admirar já que está de acordo com as sondagens de opinião que vão sendo feitas, que revelam que a grande maioria de pessoas acha justo o aumento verificado este ano.

Enfim, aparentemente a maioria baseia a sua aceitação, numa espécie de moralismo primário, já que teima em insistir até à exaustão, que se os alunos têm dinheiro para gastar em copos também têm para gastar nas propinas, o que imediatamente me faz temer por outro princípio básico que é a liberdade individual de cada um.

"Mas que raio é que estes tipos têm a ver com aquilo que eu gasto?"

Da lógica deste ridículo argumento já falei aqui. Acrescento já agora, que seria bom que estes senhores fossem coerentes e dissessem claramente que aquilo que defendem é, caso não tenham reparado, uma subida ainda maior do valor das propinas, já que felizmente, ou se calhar infelizmente do seu ponto de vista, há muitos alunos que até podem pagar bem mais do que o valor actual. E já agora, quanto mais dinheiro tiver o aluno, mais deverá pagar de propinas, garantindo assim que tal dinheiro jamais será gasto em indecentes e ímpias actividades.

Tenham paciência!

Mas o motivo que me levou aqui hoje a escrever de novo sobre esta temática, foi este curioso artigo publicado hoje no Público.
Cheguei ao fim e, ou não percebi aonde o seu autor quis chegar, ou então reina na sua mente uma gigantesca confusão.
Começa, até bem, por dizer que as pessoas sabem apenas aquilo lhes é dado ver pelos órgãos de comunicação social, que como se sabe dão mais primazia ao espectáculo omitindo, não raras vezes, o que é essencial.
Mas depois, partindo desta alegada ignorância, interroga-se se a pessoas calculam o quão mais caro é o ensino privado relativamente ao público. Se sabem que há filhos de famílias que não tendo dinheiro para pagar explicações, têm a sua entrada no Ensino Superior barrada, tanto mais, que com as recentes restrições no acesso superior, as médias de entrada se tornaram demasiado elevadas. Pergunta-se também, se sabem os sacrifícios que as famílias fazem para manter os filhos numa privada, quando estes estes não têm outra alternativa visto não terem conseguido ter a nota mínima de acesso ao Ensino Público, pelos motivos apontados anteriormente.
Depois a propósito de uma reportagem da TVI, que expôs as condições de degradação das instalações da Universidade de Coimbra, conclui se não é justo que se pague mais de propinas!

Bem, que grande confusão! Parece que ia concluir uma coisa e acabou por concluir o contrário.

No fundo o que este senhor parece estar a dizer é que se deveria pagar no público o que se paga no privado!
Claro que não resolvia nada das dificuldades que apontou, mas pelo menos estava tudo metido nos mesmos maus lençóis.
É lamentável este tipo de raciocínio, mas de qualquer maneira aborda a questão das privadas, algo sobre a qual desejo aqui expressar a minha opinião.

Sejamos claros!

As universidades privadas existem porquê? Muito simplesmente porque há uma oportunidade de negócio. Há alunos que não entram no Ensino Superior Público, por que não demonstraram capacidade para tal, mas que no entanto estão dispostos a pagar, e bem, essa entrada, obviamente porque têm possibilidade para tal. Adicionalmente, embora hoje já não tanto, é também uma forma de fazer uma separação social e juntar uma elite cujo relacionamento poderá oferecer no futuro alguns benefícios mútuos.

Mas claro, o mundo avança, felizmente para melhor e as pessoas vão tendo mais poder económico, pelo que as coisas hoje já não são bem assim. De facto, cada vez mais alunos que não têm as notas mínimas de entrada no Ensino Público, podem aceder ao ensino Privado, mas ainda assim, à custa de muitos sacrifícios familiares.
É lícito esse sacrifício? Deveria haver algum tipo de comparticipação por parte do estado para o minorar?

Na minha opinião não.

A questão aqui é, para utilizar uma palavra cara à direita, uma questão de mérito e o mérito não se compra.
É na questão do acesso, que faço a principal diferença entre o Ensino Superior e o resto do ensino.
Aqui sim, faz sentido dizer que não é financeiramente suportável para o Estado, pagar o Ensino Superior para toda a gente que o queira frequentar.
A escolha terá que ser feita em função da capacidade de cada um. Se não entrou no ensino público é porque não demonstrou capacidade para tal. Se demonstrou, então aqui sim, o Estado deverá envidar todos os esforços para que a sua frequência seja o menos onerosa possível, o mesmo será dizer, tendencialmente gratuita.

Obviamente que este princípio não funciona na perfeição. Claro que há casos em que isto não se passa assim. O caso mais evidente é o de Medicina que deixa todos os anos imensa gente com capacidade mais do que evidente para frequentar a Universidade Pública. A solução passará obviamente pela abertura de novas vagas, tendo o cuidado de garantir que tal, não levará a uma degradação na qualidade desse ensino. Ainda assim, possivelmente haverá pessoas de qualidade que ficarão de fora. Ou voltam a tentar a sorte no ano seguinte, ou então têm que ser realistas e aceitar que há quem seja melhor.

As privadas nada têm a ver com esta história. Se a frequência de um aluno no Ensino Superior por si só já é muito cara, se adicionarmos a isso o custo do lucro que essa privada obviamente vai querer ter, então é que os custos do Estado com o Ensino Superior rebentam as escalas. Como isso não é possível, das duas uma, ou o número de pessoas no Ensino Superior diminui para o Estado poder comportar os custos, ou então será o aluno a comportá-los, tornando a sua frequência em mais uma fonte de dores de cabeça e preocupações para as famílias, na gestão dos seus rendimentos mensais, contribuindo assim para diminuir a sua qualidade de vida.

Infelizmente, temo que a filosofia deste governo, seja justamente a de paulatinamente, vir a igualar os custos da frequência no Ensino Superior Público com os do Privado, tendo este recente aumento, sido apenas um passo nesse sentido.

Como é claro, comigo não contem.
# escrito por Sem às 15:35 | Comentários[]

sexta-feira, novembro 14, 2003

O fim do conflito (II) 
Esther Mucznik, em artigo hoje publicado no Público, é o exemplo acabado de um dos porquês que minam a resolução do conflito entre Israel e Palestina.

A começar pelo título, "Amor e Ódio", mera utilização formal de frase feita, mas que de facto, à qual não é feita justiça, já que praticamente ignora, ou esquece-se do primeiro dos substantivos, deixando-se levar na explanação do segundo, o qual, fá-lo recair na forma da Europa olhar para Israel.
Fala de ambivalência de sentimentos Europeus, mas logo a seguir trai-se ao revelar que na sua opinião, o "ódio tem sido muito maior que os momentos de amor".

Prova disso, segundo a autora, é o resultado da recente sondagem encomendada pela Comissão Europeia e que coloca Israel no topo dos países que constituem ameaça à paz global.
Sem dúvida é importante, reflectir sobre este resultado, e de facto é hipócrita tal sondagem não ter sido publicada pela Comissão. Infelizmente, e é contra isto que me oponho, é uma pena que se desperdiçe pensamento e retórica olhando para o passado em vez de olhar para o presente para justificar tal sentir.
E se calhar, é apenas e somente retórica que se desperdiça, limitando-se a enunciar os já estafados argumentos do sentimento de culpa Europeia e uma pretensa campanha de diabolização do estado de Israel.
Na Europa e particularmente em Portugal, que é o caso que conheço, discordo que haja qualquer tipo de orquestração para tender a opinião pública para um ou para outro lado, há apenas e felizmente, liberdade de expressão para que quem seja pró-israel, pró-palestiniano, ou neutro, possa livremente exprimir as suas ideias, mesmo que por vezes o faça com demasiado rancor e violência.

Fica subjacente neste artigo, uma incapacidade de olhar para o essencial. A análise é feita com o fim de encontrar razões de ódio e incompreensão, quando isto devia ser apenas um passo intermédio para o verdadeiro fim de qualquer análise sobre este conflito, que é a obtenção de soluções para a sua resolução.
E mais, revela uma incapacidade de olhar para o outro lado e para si mesmo, ao ignorar completamente, as sevícias impostas por Israel ao povo Palestiniano.

A paz é urgente mas, ao contrário do que conclui a autora, para tal, não é necessário haver uma mudança na política europeia relativamente a Israel, como se a culpa, já agora, fosse da Europa. Uma vez mais é reveladora do pensamento do "ou estás por nós ou estás contra nós". Possivelmente gostaria que a Europa tivesse uma política semelhante aos EUA, claramente pró-isrealita, mas felizmente tal não tem acontecido, continuando a manter uma posição equidistante, pecando apenas por, há que lamentá-lo e admiti-lo, não ter capacidade própria de conseguir ter um papel mais activo e definitivo na resolução deste problema.

Só para concluir, pese embora não concorde com os resultados da reflexão da autora, é de louvar, que o debate sobre o tema, que versa o ódio, não tenha servido, como por vezes se vê, para o acicatar ainda mais.
# escrito por Sem às 15:43 | Comentários[]

quarta-feira, novembro 12, 2003

O pior entre os piores 
De novo, com a notícia publicada hoje no Público, relativa ao incumprimento no pagamento de horas extraordinárias por parte da banca, apraz-me realçar alguns aspectos que me parecem relevantes.

1. Actualmente, a banca beneficia de forma escandalosa e sem qualquer justificação de um tratamento fiscal de excepção.

2. No panorama actual de crise, tem conseguido passar incólume, mantendo nuns casos e aumentando em outros os lucros obtidos na sua actividade.

3. Apesar disto, e como se percebe pela notícia de hoje, segue a lógica da exploração da mão de obra, coagindo os seus colaboradores a fazerem horas extraordinárias sem qualquer tipo de compensação, nuns casos de uma forma mais "leve", noutros de uma forma mais "pesada" sob pena de serem transferidos de local de trabalho ou despedidos.

4. Esta lógica, que não é exclusiva da banca, é aplicada com mais vigor nas instituições privadas do que nas não privadas.

5. É incontornável não pensar nas leis contidas no novo código de trabalho produzido pelo actual ministro da SS&T, Bagão Félix, e se não poderão elas facilitar esta prática ao invés de a dificultar.

Para terminar e como não podia deixar de ser, uma palavra especial para o Totta e Açores, que de entre os piores consegue sobressair e ser ainda pior.
Num espaço de tempo relativamente curto, primeiro no caso do desfalque no Totta & Açores de Seia e agora pela segunda vez neste caso, este banco vem à baila pelas piores das razões.
# escrito por Sem às 16:10 | Comentários[]

A entrevista de Ferro 
Breves comentários sobre a entrevista de ontem na RTP a Ferro Rodrigues:

1. Ferro Rodrigues mostrou que, quando não lhe sobe a mostarda ao nariz, é uma pessoa preparada, capaz de um discurso estruturado, coerente e mobilizador e que poderá efectivamente liderar uma alternativa credível ao governo de Durão Barroso.

2. Teve alguns pontos altos, nomeadamente ao denunciar a hipocrisia do governo na apresentação, na passada segunda-feira, do Plano Ferroviário Nacional, quando nos anos de governo de António Guterres a apresentação de um plano similar recebeu fortes críticas pelas vozes de Durão Barroso e Paulo Portas.

3. Teve um ponto menos alto, ao invocar o artigo publicado por Vitor Malheiros, para falar sobre o estado da Saúde em Portugal. Penso que a referência a situações pessoais melindrosas, como é o caso, são de evitar, sob a pena de se cair em demagogia ou pelo menos ser acusado dela.

4. Infelizmente, metade da entrevista foi ocupada com os casos relacionados com o processo Casa Pia e outra metade a censurar, diga-se que com razão, a actuação do actual governo. Propostas e soluções alternativas nem vê-las, o que deixa claro que: primeiro, os partidos políticos estão reféns daquilo que a Comunicação Social entende serem os temas relevantes a discutir; segundo, a Comunicação Social está refém, em prol das audiências, do país e daquilo que quer ouvir falar, utilizando a máxima do "dar ao povo aquilo que ele quer, não aquilo que ele precisa"; terceiro, obviamente o país não quer ouvir, nem de propostas nem de soluções.

Finalmente, se porventura houver a hipótese desta entrevista poder servir como rampa de (re)lançamento do PS como oposição, ficamos então a aguardar, para breve, a saída de novas notícias que irão contrariar tais e tamanhas pretensões.
# escrito por Sem às 14:29 | Comentários[]

quarta-feira, novembro 05, 2003

Um diálogo curioso 
Esta conversa passa-se num café entre dois amigos:
- Eh pá, ontem à noite encontrei um blogue espectacular!
- Ah sim? E então, é sobre quê?
- Bué da coisas men!
- Bué? Men? Ouve lá, vê mas é se falas português!
- Mau... Queres saber ou não?
- Tá bem, anda lá, continua.
- Ok, é assim. Estava eu com a minha chavala e coisa e tal... quando de repente recebo uma mensagem no meu telélé novo!
- ...
- Claro que fui logo ver a mensagem. Afinal era uma óptima oportunidade de lho mostrar e causar uma boa impressão.
- Sei... O efeito deve ter sido devastador.
- Pois, não percebi o que aconteceu, desapareceu porta fora!
- Mas e a tal mensagem?
- Eh pá, era um endereço de um blogue. Qualquer coisa relacionada com não ter certezas...
- Então mas e quem é que te enviou a mensagem?
- Foi engano! De qualquer maneira, como já não tinha nada pra fazer, liguei a machine e resolvi dar uma vista de olhos.
- E?
- Fantástico! Tem uns postes a dizer mal de tudo. E tem um diálogo muita baril, também.
- Um diálogo sobre quê?
- É complicado explicar...
- Complicado? Não percebo...
- Digamos que tudo o que dissémos e iremos dizer aqui, está lá escrito.
- Está lá escrito? Ora essa. Estás a gozar comigo ou quê?
- Não estou nada, é verdade. Lembro-me perfeitamente de ter lido aquilo que acabaste de dizer.
- Tás parvo, ou quê? Isso não pode ser verdade.
- Claro que é. Não me perguntes é como, que agora não te posso dizer.
- Não me podes dizer? Não estou a perceber nada. Dizes que tudo o que eu disser a seguir, já está lá escrito?
- Já.
- JH BkhgB ykjgJH KUYTT uasfdd asdfasdfase CASDC cdl. Ah, ah. Aposto que isto não estava lá escrito.
- Que engraçado! Então aquelas palavras esquisitas que lá estavam, soam assim!
- Não pode ser! Sabes o que isso significa?
- Huummm... Já sei! Significa que quem escreveu aquilo tem uma máquina do tempo, viajou para o futuro e ouviu-nos falar.
- Ouviu-nos? Ou está neste momento, aqui e agora, a ouvir-nos?
- Brrrr... Senti um arrepio na espinha...
- Não é possível. Não é possível.
- Duas vezes disseste isso. Quando estava a ler esta parte da conversa, pensei que tinha sido um erro na escrita do texto. Um erro do tipo copiar e colar duas vezes sem querer. Pelos vistos não era. Mas também imediatamente me apercebi disso quando li a linha seguinte.
- Meu Deus... Começo a perceber...
- O quê? Já leste o texto?
- Como já li o texto?
- Se já percebeste!
- Não, não li. Mas então... já sabes o que está a acontecer?
- Claro. Li até ao final!
- Então se leste até ao final sabes que não li. Nesse caso porque fizeste uma pergunta para a qual já sabias a resposta?
- Porque estava lá escrito.
- Então mas se sabes a verdade, como é que consegues estar tão calmo?
- Se percebeste... já sabes qual é a resposta!
- Sim... Não... Não consigo conceber algo assim. Penso, logo existo. Isto tem que ser verdade... Já sei, vais dizer-me o que eu vou dizer a seguir. Se souber o que direi, posso sempre dizer algo diferente. Vá, diz.
- Não pode ser.
- Não pode ser?
- Aí está! Convencido?
- Ahhhhhh, enganaste-me. Não deste a entoação de pergunta.
- Pediste-me para dizer, não para perguntar...
- Ok, não volto a cair no mesmo truque. Diz-me o que direi a seguir.
- Não me lembro.
- As rosas são vermelhas e as violetas são azuis. Ah, ah, falhaste, falhaste!
- Não. Não percebeste. Eu disse que não me lembro. Não estás concerteza à espera que me lembre de tudo o que li, pois não?
- Bem, assim sendo apenas quero que me confirmes duas coisas.
- Sim, diz lá.
- A verdade é que nós na realidade não existimos e somos apenas fruto da imaginação doentia de alguém. É assim?
- É.
- Assim sendo, pressuponho que o texto tenha um final e com esse final termine a minha existência. Se é que posso falar em existência...
- É verdade.
- Falta muito para acabar a nossa conversa?
- Não. Já só falas mais uma vez. E quanto a mim... por aqui me fico.
- Nesse caso direi apenas mais isto. QUE QUEM INVENTOU ESTA PORCARIA DE DIÁLOGO VÁ PARA...



PS: Este é um antigo diálogo que se encontrava numa página pessoal minha. Publiquei-a aqui, com algumas adaptações de circunstância.
# escrito por Sem às 10:39 | Comentários[]

terça-feira, novembro 04, 2003

O fim do conflito 
O Público publicou ontem uma série de artigos sobre o conflito Israelo-Árabe, a propósito do seminário sobre a paz no Médio Oriente, ocorrido em Sevilha e organizado pelas Nações Unidas.
Destaco o O Fim do Sionismo, extractos de um artigo publicado pelo trabalhista Avraham Burg num diário hebraico.

É um artigo para ler, sem preconceitos, por todos aqueles que apesar de não estarem directamente envolvidos no conflito e do qual têm apenas a percepção daquilo que lhes chega pelos órgão de comunicação, nem por isso hesitam em contribuir para este ciclo de ódio e vingança. Por quem não acredita que boas intenções existem do lado Israelita, mas também pelo outros que defendem a actual política de extermínio de Ariel Sharon. A estes últimos principalmente, para que façam uma introspecção e se interroguem porque razão destilam tanto ódio, tanta raiva, tanta sede de sangue e vingança, mais do que quem, legitimamente, teria razões para o sentir e desejar com maior fervor e intensidade, como é o caso do autor do artigo.

Avraham Burg é israelita, é judeu, é defensor do sionismo e provavelmente saberá o que é viver numa nação estigmatizada pelo medo do terrorismo. Mesmo assim, consegue olhar para o lado de lá, sensibilizar-se com a miséria e humilhação humana que é imposta, pelo seu povo, à população Palestiniana e perceber que "Uma estrutura que assenta na insensibilidade humana acabará, inevitavelmente, por ruir sobre si própria".
Esta sensibilidade, que terá que ser recíproca, tem obrigatoriamente que ser o primeiro passo para a verdadeira paz. O seguinte será a cedência, que deve ser a que for precisa para alcançar a paz. Como muito bem sintetizou numa entrevista que deu - "É só uma questão de querer pagar o preço.".

O "Acordo de Genebra", iniciativa recente de personalidades da esquerda Israelita e Palestiniana para a resolução do conflito, parte destas duas ideias. Pode não ser a solução, mas é uma porta que poderá permitir sair do corredor, por onde se entrou, e que actualmente está ladeado de maciças paredes nas quais não existe sequer uma fresta que deixe entrar uma réstia de luz.

Claro que iniciativas baseadas nestes princípios já foram tentadas anteriormente sem sucesso. No entanto, não restem dúvidas que essa é a única forma de alcançar a paz. Manifestamente, a actual política levada a cabo pelo primeiro-ministro Ariel Sharon apenas tem gerado mais violência. Sejamos realistas! Tal política apenas poderá resultar em paz, numa de duas situações:
Quando a Palestina se tiver tornado num gigantesco campo de concentração ou então quando não restar à face da Terra um único Palestiniano vivo.
Isto é um facto, é claro com a água e só não vê quem está toldado na razão pelo ódio e desejo de vingança, ou quem pensa que um Holocausto Palestiniano é mesmo a solução para o problema!

"Olho por olho e a humanidade acabará cega". Não está contida nesta simples frase uma grande verdade? Não é ela suficiente para perceber o que está mal? Não é óbvio que alguém terá que ceder e que mesmo que ceda mais do que a outra parte, a recompensa será sempre infinitamente maior e terá sempre valido a pena?

Nesta guerra não estou do lado de ninguém ou se calhar estou dos dois lados. Possivelmente serei mais crítico de Israel, darei mais ênfase aos seus erros, como se os culpabilizasse mais a eles do que à Palestina pela situação. Não entendam mal, não o faço por achar que são mais culpados. Faço-o não só por Israel ser a nação mais forte, mas principalmente por ser a nação na qual revejo mais dos princípios civilizacionais do mundo Ocidental, os quais acredito serem aqueles de onde a humanidade continuará a evoluir. Por isso deveria ser seu dever fazer jus a essa imagem, dar o exemplo e ser o principal e decisivo impulsionador para a tão desejada paz entre Israelitas e Palestinianos.
# escrito por Sem às 09:18 | Comentários[]